Após o vereador Sandro Fantinel (Patriota), de Caxias do Sul (RS), pedir que as empresas daquele estado não contratem baianos, argumentando que eles só saberiam “dançar e tocar tambor”, diversos políticos demonstraram-se indignados com a afirmação xenofóbica. Em Eunápolis, na Costa do Descobrimento, o vereador Arthur Dapé (UB) usou a tribuna da Câmara, durante a sessão ordinária desta quinta-feira (dia 02 de março), para apresentar uma Nota de Repúdio ao vereador do Rio Grande do Sul, classificando-o como escravagista, preconceituoso e desumano.
Demonstrando indignação com a afirmação que, segundo o baiano, defendeu e justificou o trabalho escravo em pleno século 21, “o colega, se é que se pode chamar assim, ainda ofendeu de forma absurda o povo baiano. As falas dele são preconceituosas. Eu sou eunapolitano, baiano, e como todos vocês aqui, me senti ofendido com essas declarações”. Completou.
“Diferente daquele vereador, nós baianos não somos agressivos. A Bahia tem um povo ordeiro, trabalhador e eu tenho certeza que a fala dele não representa o pensamento do povo do Rio Grande do Sul. Portanto, fica aqui minha indignação e Nota de Repúdio ao vereador que fez discurso de ódio contra o povo baiano e a favor da escravidão.
A Moção de Repúdio de autoria de Arthur Dapé foi acatada pela Mesa Diretora da Casa.
ENTENDA O CASO
O discurso xenofóbico de Sandro Fantinel ocorreu após três trabalhadores entrarem em contato com a polícia, na última quarta-feira (22/02), após escaparem de local onde eram mantidos de forma compulsória. No mesmo dia, a corporação realizou uma operação, resgatando mais de 200 pessoas, que, assim como os homens, eram submetidos a trabalho análogo à escravidão em vinícolas gaúchas, no período de colheita das uvas.
Contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, os trabalhadores saíram, em sua maioria, da Bahia para o estado sulista, e eram oferecidos pela empresa como mão de obra às vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton, e a produtores rurais locais.
Conforme relatado pelos resgatados, eles eram ameaçados, extorquidos e agredidos, além de torturados com spray de pimenta e, até mesmo, choques elétricos.
A polícia chegou a prender o administrador da empresa, mas o homem foi solto após pagar fiança.
Já as vinícolas envolvidas tiveram suas atividades na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) suspensas, e deverão ser responsabilizadas, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Parte dos trabalhadores resgatados retornaram à Bahia na segunda (27/02), enquanto outra parcela preferiu permanecer no Rio Grande do Sul. Quase todos, no entanto, conseguiram receber as verbas rescisórias a que tinham direito. No total, o valor das verbas, quando somado, passa de R$ 1 milhão.