Na primeira semana de abril, a aposentada Maria Conceição Moreira da Silva, 70 anos, saiu de casa em Miguelópolis (a 441 km da capital paulista) para tomar vacina da gripe e passar na farmácia para comprar remédios. Após voltar para casa, ela diz não se lembrar de mais nada até acordar numa cama da UTI da Santa Casa de Misericórdia de Ituverava (a 33 km de sua residência), um mês depois.
Ela ainda não sabia, mas aquele era o seu segundo nascimento, já que tinha todas as comorbidades para não sobreviver ao novo coronavírus: hipertensão, diabetes e hipotireodismo, além de obesidade e ser ex-fumante.
Depois de uma semana passando mal em casa, dona Maria foi internada em Miguelópolis no dia 11 de abril com falta de ar e obstrução das vias aéreas. Como ainda estava piorando, foi transferida para a cidade vizinha, onde foi intubada logo que chegou. A partir de então, teve início a luta da equipe médica da Santa Casa para mantê-la viva e as orações da família, que se desesperava com os boletins médicos nada animadores.
Nos 21 dias em que esteve dependente de ventilação mecânica artificial (respirador), ela sofreu três paradas cardíacas e por três vezes foi reanimada pelos médicos. Segundo o hospital, “foram necessárias altas doses de infusões de medicações, sondas, drenos e dispositivos invasivos de alta complexidade para mantê-la viva”.
“Quando comecei a acordar do coma, não sabia onde eu estava. Eu não falava, só fazia sinais e custou para as enfermeiras entenderem o que eu queria. Depois que acordei é que elas falaram que eu estava internada em Ituverava fazia um mês, que eu estava em coma, que tinha feito a traqueostomia e tido três paradas cardíacas. Mas os médicos não desanimaram e conseguiram me salvar. Então, eles disseram que foi um milagre de Deus porque eu fiquei muito mal”, conta dona Maria, animada por estar em casa novamente.
Do período em que esteve intubada, ela conta ter lembranças de “sonhos variados”, sempre com alguém a chamando.
“Fiquei vagando naquele sonho. Eu estava em vários lugares perigosos e via meu filho Rodrigo me chamando, via o padre Marcelo Rossi me socorrendo, não deixando ninguém entrar onde eu estava. Então, ia passando como se fosse um filme. Eu chamava muito por Jesus e Nossa Senhora. Acho que essas pessoas que apareceram para me ajudar eram os anjos do Senhor que estavam ali me chamando de volta. Graças a Deus eu consegui.”
No dia 28 de maio, quando recebeu alta após 45 dias internada, o hospital praticamente parou para saudar a sobrevivente da Covid-19. Os profissionais se alinharam nos corredores, batendo palma e cantando enquanto dona Maria passava na cadeira de rodas. Vários membros da família também foram recepcioná-la, muito emocionados.
“O doutor Luiz Monteiro [coordenador do setor de Covid-19] foi tirar uma foto comigo e mostrar para mim como ele era sem a máscara. Depois falou para eu não me assustar, mas que ia fazer uma festa na saída do hospital. Saí e quando vi o tanto de gente não quis acreditar. Foi bonito demais! Quando cheguei na frente, estavam várias pessoas da minha família lá.”
O filho Rodrigo, 41, foi o porta-voz da família nos agradecimentos. “A família toda agradece o empenho de todos os colaboradores da Santa Casa de Ituverava. Mesmo todos cansados, não mediram esforços para tratar bem a minha mãe.”
“Os médicos são muito bons e as enfermeiras, excelentes. Falo que elas são meus anjos porque não me abandonaram hora nenhuma”, completa dona Maria, que ainda recebe mensagens de vídeo das enfermeiras querendo saber como está passando.
De volta a Miguelópolis, onde mora com o marido, Antônio, 71, e o filho Silvio, 44, ela agora conta com a presença da filha Vivian, 39, que vive na mesma cidade e a ajuda durante o dia.
“Agora, graças a Deus, estou bem, até dando uns passos, porque saíram feridas no calcanhar e não posso forçar, mas estou dando uns passos devagar. Estou vendo um andador para ajudar”, diz a sempre otimista dona Maria, que conta com uma fisioterapeuta duas vezes por semana em casa para ajudá-la na recuperação.